Com texto e direção de Celso Frateschi, Estação Paraíso/12 estreia sexta-feira, dia 16 de março, às 21 horas no Teatro Ágora
A trama toca em questões como metafísica, intolerância, preconceito. Dois personagens se encontram em um buraco do metrô, uma metáfora para a crise social no mundo contemporâneo. Mais um espetáculo questionador para os 42 anos de carreira nos palcos de Celso Frateschi
Sentado, frente ao palco, Celso Frateschi olha atentamente seus
atores na construção de uma mise-en-scène
de um novo espetáculo. Em seu
caderno, faz algumas anotações e passa cada orientação atentamente. Da mesma
maneira que expõe suas reflexões, escuta os atores e os auxilia na criação da
verdade no momento da interpretação. É o responsável pela direção e texto de Estação Paraíso/12, que estreia
sexta-feira, dia 16 de março, às 21 horas, no Teatro Ágora. A montagem conta com os
atores Fernando Nitsch e Tayrone Porto, cenografia e figurinos de Sylvia Moreira
e iluminação de Wagner Freire.
Estação Paraíso/12
traz
um embate entre dois
personagens que se encontram em um buraco do metrô. O Branco é um homem cheio de
desilusões, por isso decide dar um fim na própria vida. Já o Negro é uma espécie
de anjo da morte. Um encontro que trará questões envolvendo intolerância e
preconceito, uma metáfora para a crise social
contemporânea.
A trama se passa em
um tempo e espaço ficcional, não realista. O Branco perambula
com uma bíblia em punho, recitando o apocalipse, enquanto o Negro aparece de
forma silenciosa, gerando um choque entre ambos. Com o decorrer da história,
eles passam por reviravoltas, as situações se invertem, uma sombra se rebela e
cria vida própria como nos tempos de Abaddon - termo em hebraico que
significa destruição e é citado nos livros de Jó e
Apocalipse.
A dramaturgia toca
em questões envolvendo filosofia, intolerância, preconceito, o buraco onde se
encontram é uma metáfora para uma crise social no mundo contemporâneo. “Venho
escrevendo a história há mais de 10 anos, passou por várias camadas, tem uma
vida longa, trabalhado de forma cuidadosa. Os personagens entram em uma jornada
de entendimento e desentendimento, são vítimas e responsáveis pelos próprios
atos”, diz Celso
Frateschi.
Fernando Nitsch
interpreta o Branco. “Homem que está cheio de desilusões, por isso decide ir
para o buraco do metrô e acabar com a própria vida”, explica o ator. “Porém,
encontra o Negro e decide expurgar todos suas intolerâncias antes de fechar a
última etapa.” Fernando comenta que o texto aborda assuntos atuais e questiona o
estilo de vida de pessoas que dão valor a banalidades. “Celso disse uma frase
que contribuiu para pensar mais sobre a trama durante o processo: ‘A desimportância
liberta’.”
Já Tayrone Porto faz
o contraponto ao viver o Negro. “É um anjo da morte, uma sombra do Branco.
Quando os dois se encontram, existe um embate violento, um tempo que se dilata e
faz uma reflexão antes de encerrar um ciclo. A peça trabalha mais com o
preconceito racial, todavia existe uma abordagem sobre o tema de maneira ampla e
social.”
O movimento dos atores utiliza todos os
espaços do palco - que foi ampliado para a temporada de 2012 no Teatro Ágora. A
encenação exibe uma linha tênue entre a ancestralidade animal e a sensibilidade
dos personagens. As palavras funcionam como guia para trilhar o caminho entre os
dilemas a cada frase.
Cenário e figurino
Além de se destacar pela parte textual,
Estação
Paraíso/12 tem um aspecto visual
interessante, criado por Sylvia Moreira. O público poderá conferir uma
instalação de arte, localizada no próprio teatro, que dialoga com elementos da
peça. Uma tela transparente cobre toda a boca de cena, exibe projeções e
lâmpadas florescentes simulam um trilho de trem.
“A cenografia
enfatiza o jogo de luz e sombra. Já o figurino parte do real para o fantástico e
remete a uma imagem social e ao caráter dos personagens, funciona como uma
extensão entre eles”, explica Frateschi.
O poder do Teatro
O teatro provocativo e questionador é
característica primordial no trabalho de Celso Frateschi. Essas
particularidades sempre estiveram inseridas em personagens de peças como Sonho de Um Homem Ridículo (Fiódor
Dostoievski, 1821-1881), Ricardo 3
(William Shakespeare, 1564-1616), Tio Vânia (Anton Tchecov, 1860-1904) e
O Grande Inquisidor (Fiódor
Dostoievski), entre outros. “São histórias que servem como espelho para
questionamentos”, afirma Celso Frateschi. Toda essa atmosfera também influencia
Estação
Paraíso/12.
“O teatro mexe
com questões duras e complexas da nossa realidade. Ajuda a construir uma visão,
permite um mergulho vertical na alma humana. É uma arte volátil, efêmera. Em
tempos em que tudo é tão rápido, ela se direciona no caminho contrário, procura
trazer um pensamento mais aprofundado”, analisa Frateschi.
Prestes a completar 42 anos nos palcos,
ele sempre se pautou com espetáculos que evocavam o lado mais humano e social.
Trabalhos no Teatro de Arena e Teatro Studio São Pedro o ajudaram a embarcar em
um teatro mais engajado. E o ano de 2012 será produtivo para Celso Frateschi;
além de dirigir Estação Paraíso/12, estão previstos o retorno de Sonho de Um Homem Ridículo e a estreia
de Giordano
Bruno.
Sobre
Celso Frateschi
Ator,
diretor e dramaturgo, tendo estreado no Teatro de Arena de São Paulo em 1970,
em Teatro
Jornal 1a. Edição, de Augusto Boal. Trabalhou com os principais
diretores do teatro brasileiro, com Enrique Diaz, José Possi Neto e Domingos de
Oliveira. Foi premiado nos espetáculos: Os Imigrantes, autoria própria, Prêmio
Mambembe de Melhor Projeto (1978), Eras (1988), de Heiner Müller, Prêmio Shell
de Melhor Ator, Do Amor de Dante por Beatriz, de Dante Alighieri, com adaptação
de Elias Andreato, Prêmio Apetesp de Melhor ator (1996). Na televisão,
participou de minisséries e novelas, como: Memorial de Maria Moura, A Muralha, O
Beijo do Vampiro, Um Só Coração, Paixões Proibidas, Caros Amigos e Casos e
Acasos. Na área da administração pública, foi Secretário de Educação, Cultura e
Esportes do Município de Santo André entre 1989 e1992 e 1997 a 1998 e Secretário de
Cultura do Município de São Paulo no período de 2003 a 2004. Também foi Presidente da
Funarte de 2006
a 2008 e Secretário de Cultura de São Bernardo do Campo em
2009. É Professor de Interpretação na Escola de Arte Dramática da USP
(EAD/ECA/USP). Seu mais recente trabalho em TV foi na novela O Astro (2011), da
Rede Globo. Atualmente é diretor do TUSP.
Estação
Paraíso/12 –
Estreia 16 de março, sexta-feira, às 21 horas, no Teatro Àgora. Texto
e Direção: Celso Frateschi.
Iluminação: Wagner Freire. Elenco: Fernando Nitsch e Tayrone
Porto. Cenografia e Figurinos: Sylvia Moreira. Duração: 60 minutos. Temporada:
Sextas e Sábados às 21hs e Domingos às 19hs. Até 06 de maio. Preço: R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00
(meia). Ingressos podem ser adquiridos pelo www.ingresso.com.br
TEATRO
ÀGORA - (Sala
Giani Ratto), Rua Rui Barbosa, 672 – Bela Vista. Telefone – (11) 3284-0290. Bilheteria – de segunda a domingo das 14 às 20
horas. Não aceita cartão. Tem ar condicionado. Tem acesso
para deficientes físicos.
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